Leitura em Voz Alta




A leitura em voz alta, primeiro veio na Igreja, depois na escola. Na primeira para convencer, na segunda... para convencer também. Na escola lia-se em voz alta, tanto para convencer de que se devia ler, quanto para se ensinar o que se ler. A escola pretendia desenvolver o gosto pela leitura escolhendo o que deveria ser lido e como deveria ser lido. Mais que isso, a escola e os poderes vigentes,  estabeleciam os critérios para leitura. O primeiro deles, que toda leitura deveria dar lugar a trabalho, e ser ela mesma parte de um trabalho. Nada de confundir o momento da leitura com ociosidade. O segundo, diz respeito às qualidades do que se lia. Um texto seria bom se ele pudesse ser partilhado, se pudesse ser mostrado, lido em público. Assim, uma má leitura se praticava escondido e sem controle. Segundo as normas, tal leitura fora das redes de sociabilidades, que fixavam o sentido certo e um certo sentido de interpretação, poderia dar margem e criar enganos. 

A leitura em voz alta e pública, fosse feita na escola, na igreja, na família ou mesmo em reuniões explicitamente realizadas para esse fim, criava uma pedagogia da compreensão que pretendia, assim, garantir a justa recepção. Pode-se dizer que a leitura pública não fazia parte de uma teatralização, mas de uma transmissão controlada de sentidos. A entonação do leitor, suas acentuações, seus silêncios, sua emoção, falavam pelo texto.

Além do mais, pretendia-se com o exercício da leitura em voz alta constituir uma aprendizagem da língua correta.