Leitura de Imagens

 


Tal como a linguagem verbal, em que há sistemas e estratégias para realizar a leitura, na linguagem visual também há sistemas, técnicas e estratégias que ultrapassam o limite do visto, do óbvio.

Por essa razão o leitor deve expandir o conceito de leitura, uma vez que ele não se restringe exclusivamente a elementos verbais. Cada vez mais, a escrita, unida à imagem, ao som, ao movimento, afasta a “visão purista de leitura restrita à decifração de letras” do enunciado verbal, criando um novo tipo de leitor, chamado, por Lucia Santaella, de “leitor imersivo”.

Ao explicar o que entende por leitura de imagem, Santaella retoma a expressão americana visual literacy (letramento visual ou alfabetização visual). Em sua visão, para lermos uma imagem, “deveríamos ser capazes de desmembrá-la parte por parte, como se fosse um escrito, de lê-la em voz alta, de decodificá-la, como se decifra um código, e de traduzi-la, do mesmo modo que traduzimos textos de uma língua para outra”.

Embora, a própria autora admita que essas possam ser metáforas equivocadas, há nelas um princípio unificador: o de transformar os efeitos de sentidos (ou interpretativos) percebidos em uma linguagem para outro tipo de linguagem. Isso nada mais é do que a possibilidade de construção e de busca de sentido em outras linguagens, ou seja, a leitura efetivamente realizada.

Para ler imagens ou alfabetizar-se visualmente, é preciso desenvolver a observação de aspectos e de traços constitutivos presentes no interior da imagem, sem extrapolar para pensamentos que nada têm a ver com ela. Assim como um texto, uma imagem pode produzir várias, mas não qualquer leitura. Dessa forma, as questões-chave, para a leitura de imagens, são:

– Como as imagens se apresentam?

– Como indicam o que querem indicar?

– Qual é o seu contexto de referência?

– Como e por que as imagens significam?

– Como as imagens são produzidas?

– Como elas pensam?

– Quais são seus modos específicos de representar a realidade que está fora dela?

– De que modo os elementos estéticos, postos a serviço da intensificação do efeito de sentido, provocam significados para o observador?

Esses questionamentos partem de um nível mais elementar e fundamental de leitura e atingem um patamar mais abstrato, responsável pela compreensão da representação de valores sociais e estéticos, de subjetividades, de identidades e de significados.

“O que é imagem?”, Lucia Santaella apresenta um conceito de imagem, partindo de Platão: há imagens naturais, como as refletidas na água, e há imagens artificiais, como as produzidas pelo homem.

Como ressalva, a autora explica que nem sempre imagens reproduzem aspectos daquilo que é naturalmente visível. Há imagens que apresentam formas puras, abstratas ou coloridas, outras figurativas de formas imaginárias, mitológicas ou religiosas e, ainda, imagens simbólicas que têm a função de representar significados.

Segundo Santaella, “imagens se tornam símbolos quando o significado de seus elementos só pode ser entendido com a ajuda do código de uma convenção cultural”. Dessa forma, é preciso investigar as convenções sociais de época para conhecer e interpretar o simbolismo das referências do “real”.

Para a autora, fotografia, cinema, televisão e vídeo, são “imagens tecnológicas”, e não “imagens técnicas”. Técnica, por ser concebida como um saber fazer de acordo com passos que se integram uns aos outros até a compleição de um todo, já a “tecnologia” tem a ver com o fato de uma máquina integrar a técnica.

As atividades de leitura de imagens possuem forte valor interdisciplinar, uma vez que oferecem a possibilidade de integrar disciplinas que envolvam os conhecimentos imprescindíveis da matemática, das artes, da história da arte, entre outros.