Mais Que Pontos de Vista

 


A obra de arte, como entidade física é única, entretanto, na mente do observador pode se multiplicar e ser abordada em diferentes pontos de vista. Isso significa que ao restringirmos nosso olhar para apenas alguns deles deixaremos de percebê-la integralmente.

Pontos de vistas retirados do livro Para Apreciar a Arte. Roteiro didático de Antônio F. Costella, propõe um roteiro que, pode nos ajudar a fazer uma leitura de uma obra de arte:

Ponto de vista Factual - O conteúdo da obra de arte é aquilo que ela representa, ou seja, aquilo que ela objetivamente exibe. A apreensão do conteúdo factual se concretiza pela identificação, em nível meramente descritivo, dos elementos que compõem a obra.

O Ponto de Vista Expressional - Parte constituinte da obra de arte que mexe com o sentimento do observador. O conteúdo expressional é atributo da obra, e não do observador porque as reações do observador não são fruto do acaso. O artista consegue induzir no expectador o sentimento escolhido e desencadeado. As cores, os traços, as linhas e formas, relacionados entre si são capazes de transmitir sentimentos e absorver o espectador.

Ponto de Vista Técnico – É fruto da combinação de elementos materiais e imateriais utilizados pelo artista para a realização da obra. Compreende desde os materiais adotados para a materialização da obra até a competência do artista em utilizá-los.

Ponto de Vista Convencional – Abrange os elementos simbólicos e culturais implícitos no objeto artístico. As informações iconográficas possibilitam uma identificação direta, mas também podem representar algo além, assumindo o caráter evocativo de alguma coisa neles identificada de maneira indireta.

Ponto de Vista Estilístico – A análise desse ponto de vista não se prende na identificação da corrente artística à qual a obra pertence. Além do conteúdo estilístico coletivo, devemos considerar também o conteúdo estilístico individual, resultante da personalidade do artista, visto que, a pluralidade de culturas justifica a pluralidade de estilos

Ponto de Vista Atualizado – A obra de arte não se limita apenas àquilo que ela mostra ou simboliza, tampouco ao seu enquadramento estilístico. Muitas vezes, a obra se “completa” com aquilo que nela vemos. A fruição artística pressupõe além da obra, a existência de um observador e o aparato mental desse observador deve ser levado em conta. Deslocada no tempo e no espaço a obra de arte pode acabar sendo vista de uma maneira diversa daquela originalmente pensada no contexto no qual surgiu. Passado o tempo ou mudado o lugar, um novo expectador, pertencente a outro universo cultural, pode fazer ajuizamento diferente da obra e até tirar dela um desfrute insuspeitado. Essa noção da existência de um conteúdo atualizado nos auxilia a compreender o porquê de o valor atribuído a uma obra de arte varia no tempo e no espaço.

Ponto de Vista Institucional – As instituições como os museus, as universidades e veículos de comunicação, hierarquizam as obras de arte atribuindo a elas o valor institucional. A visão institucional da obra é gerada de maneira formal, enquanto a simples atualização se desenvolve por estímulos sociais espontâneos, nem sempre controláveis, geralmente livres e, com frequência, até contraditória.

Ponto de Neofactual – Quando perceptíveis mudanças materiais são desvendadas pelo objeto artístico denomina-se conteúdo neofactual ou “conteúdo acrescido”. A obra passa a exibir algo originalmente não previsto pelo artista. Algo diferente do enfoque atualizado no qual a elaboração é toda mental, a obra mesmo sem sofrer alterações físicas é vista de modo diferente pelo observador.

Ponto de Vista Estético – É uma forma de conhecimento que se faz através dos sentidos e opera antes de atingir o nível da razão. A capacidade de apreensão do conteúdo estético é aguçada principalmente através da contemplação

Ponto de Vista Comercial – O valor comercial de uma obra resulta da soma de vários fatores: matéria-prima empregada; mão de obra necessária, características finais do produto, raridade da peça e eventualmente a notoriedade do artista. Desde a mais remota antiguidade até os dias de hoje sempre foi atribuído um valor comercial à obra de arte. Esse preço geralmente tem muito que ver com o enfoque institucional da arte.

Outros critérios de apreciações sobre as obras de arte são também apresentados por Fernando Hernández em: Cultura Visual, Mudanças Educativas e Projeto de trabalho como:

Ponto de vista Narrativo – O sujeito desta categoria e o contador de uma história. Utiliza de suas próprias associações e tem como base o que conhece e gosta.

Ponto de vista construtivo – O sujeito utiliza seu próprio conhecimento sobre o mundo e sua tradição social e moral. Demonstra interesse pelas intenções do artista.

Ponto de vista da transição – construtivismo/classificação Inicia-se um trabalho analítico a partir da classificação de aspectos da obra de arte. Pode ser do tipo histórico (nome ou escolas de arte) ou propriedades formais (forma, cor, técnica).

Ponto de vista da Classificação – O sujeito adota estratégia analítica e crítica que encontra ressonância entre os historiadores de arte. Quer identificar a obra em relação a uma escola, a um lugar, estilo, tempo, origem. Decodifica a superfície da obra a partir de uma serie de indícios utilizando sua bagagem de fatos e experimentações. Assume que o significado da obra de artes e seus conteúdos podem ser explicados e racionalizados.

Ponto de vista Interpretativo – Este espectador busca seu significado e aprecia as sutilezas da linha, cor e forma. Sabem que a identidade e o valor da obra de arte estão sujeitos a mudanças e que estão procedem de cada novo encontro com a obra, o que permite novas comparações, apreciações e experiências.

Ponto de vista Recreativo – Esse espectador tem uma longa história de conhecimento e reflexão sobre a obra de arte. Conhecendo a ecologia da obra – tempo, história, interioridade, viagens, questionamentos – traçam uma história própria na qual combinam não tanto uma comunicação pessoal sobre a obra, mas sim na adequação a conceitos e problemas mais universais. A memória cria uma paisagem do quadro em que se combinam o pessoal e o universal. Querer entender a maneira como o artista expressa, impulsionou um grande número de pesquisadores em torno desses novos olhares.

Fayga Ostrower em “O processo de Criação”, nos diz que: “a arte é do indivíduo, mas não é individual, é social”. Como dito, existem várias maneiras de ver a arte. Algumas necessitam de conhecimentos específicos, porém, é possível a interpretação a partir das nossas experiências e nosso contexto histórico para uma análise crítica do que é visto.