Venda de Livros não é Formação de Leitores

 


Um conceito institucionalizado, divulgado e noticiado, é que o brasileiro lê pouco. Quando, na verdade, temos tiragens de livros na casa dos milhares, quando não milhões, tornando o mercado editorial brasileiro um dos maiores no cenário mundial.

No entanto, verdade verdadeira, é que o maior cliente desse mercado sempre foi o próprio Governo. Portanto, acredito que esse preconceito aberto e declarado, esteja relacionado as pessoas que não compram livros, nem leem aquilo que certa elite gostaria.

A média de leitura do brasileiro, é de 1,5 livro por ano. Mas, se considerarmos o dado, que somos uma das nações que mais frequenta redes sociais no mundo, onde se usa o texto como a principal forma de comunicação, poderíamos elevar consideravelmente a média de leitura nacional! Por outro lado, essa reflexão, constata um fato! Lemos mal, ouvimos mal e enxergamos mal. Ou seja, nossa leitura de diversas linguagens, interfaces e gêneros é péssima.

Péssima, porque leitura não deve ser uma decodificação mecânica de informações com respostas convergentes a estímulos escritos pré-elaborados, que transformam o leitor num consumidor passivo de mensagens não-significativas e irrelevantes.

Acredito, que esse status quo da nossa leitura, é reflexo dessa institucionalização, de uma imagem do que é ser leitor, de como essa prática deve ser exercida e de quais são as condições necessárias e idealizadas para sua realização. Por esse motivo, testemunhamos a leitura ser erroneamente incentivada e promovida em certas políticas públicas, que fazem referência exclusiva à leitura de livros na sua forma impressa, de gêneros e títulos em sua maioria validados pelo mercado editorial.

A ostentação e divulgação de Bienais, refletem a distância que há entre a condição leitora que se diz e que se faz quando o assunto é incentivo à leitura. Mecanicamente associando leitura à livros ou à literatura e consequentemente, incentivo à leitura, à leitura de livros, mantendo a ignorância sobre as práticas de incentivo à leitura que efetivamente devem ser realizadas. Pois, o objetivo primordial, principal, fundamental e crucial das feiras e bienais, é o incentivo à venda de livros! Leitor é quem compra livro. Não leitor também compra, provavelmente para dar de presente a um leitor! Portanto, uma feira de livro não pode ser considerada como política pública de incentivo à leitura, assim como construção de bibliotecas não garante a formação de leitores!

Em minhas labutas questiono sobre obras conhecidas sem serem lidas, como Romeu e Julieta. Ouvi leituras realizadas por alunos semianalfabetos do EJA, muito superiores a leituras de alunos universitários. Porque conhecimento prévio, discernimento e raciocínio, são qualidades inerentes... Conhecimento histórico, social e neurológico do processo; peculiaridades relacionadas a estratégias, níveis, fases e tipos de leitura; além das características do objeto, interfaces e técnicas de escrita, são cruciais no incentivo à leitura e proficiência leitora, e devem ser adquiridos, antes de um livro!