Modelos de Interpretação

Em “Modelos de interpretação”, capítulo 9, Marcelo Dascal afirma que o homem é um caçador de significados, propondo a complementaridade dos modelos de interpretação que explicita em sua obra: o criptográfico, o hermenêutico, o pragmático, o superpragmático e o causal de estrutura profunda.

Segundo ele, no modelo criptográfico, o significado está ali, no texto, subjacente, pronto a ser desentranhado, dependendo de inferências. O centro do processo interpretativo seria de ordem semântica, cujos sinais e regras determinariam o significado.


No modelo hermenêutico, o significado é uma construção a ser engendrada pelo leitor, através do processo interpretativo, a partir de sua bagagem cultural ou background desse leitor-intérprete privilegiado.

Na visão de Dascal (2006), esses dois modelos de interpretação negligenciam o papel do produtor do signo, ignorando-o.

O modelo pragmático, pelo contrário, considera que o significado é produzido por um agente, cuja ação comunicativa é motivada por uma intenção. Esse é o modelo que Dascal (2006) propõe, destacando, para explicitar seu ponto de vista, que a ação comunicativa, qualquer que seja ela, só tem sucesso quando o leitor/ouvinte reconhece a intenção subjacente ao que é ouvido/lido. Em sua análise, Dascal (2006) comenta que o modelo pragmático, assim como o criptográfico, preconizam a suposição de que existem significados objetivos associados aos signos presentes no texto lido, tendo em vista a evolução das regras semânticas durante o desenvolvimento da linguagem. A diferença entre ambos os modelos está na forma como avaliam o papel do significado literal. Ao contrário do modelo pragmático, o criptográfico leva em consideração a decodificação semântica. Já o modelo pragmático propõe que a interpretação jamais consiste na mera decodificação semântica, pois é inegável a influência do contexto na interpretação.

Quanto ao modelo superpragmático, o autor comenta que seus proponentes acreditam que o intérprete consegue captar o significado do falante diretamente com base na informação contextual, sem a necessidade de considerar o significado semântico da elocução do falante (DASCAL, 2006, p. 221), o que acaba por eliminar o texto enquanto objeto cultural. É como se ele pudesse ser transparente, dizendo apenas aquilo que seu leitor quer que diga.
 
O modelo pragmático, ao unir o significado semântico com as intenções do autor/faltante, traz à tona outras variáveis ocultas no ato comunicativo, como as crenças, desejos e temores do falante. Assim, o leitor/ouvinte se envolve em uma atividade bastante complexa para a interpretação. A partir disso, alguns teóricos procuraram simplificar o processo, propondo uma interpretação radical, como a do modelo superpragmático, em que o intérprete começa do zero para tentar descobrir os valores das variáveis textuais, o que é muito questionável.


Na perspectiva de Dascal (2006, p. 227), interpretar um ato comunicativo significa tentar determinar o motivo do agente ou o seu objetivo comunicativo, segundo a escolha de meios efetuada em seu ato. Para o autor, o comportamento humano de forma geral e o comportamento comunicativo de forma particular estão enraizados em causas profundas, cujos agentes, em grande parte, não têm consciência. Assim, uma interpretação verdadeira deve descobrir essas causas, pois o significado é visto como produto de uma interação de forças subjacentes que determinam a atividade humana (DASCAL, 2006, p. 230). Nos modelos causais de estrutura profunda, as intenções e as razões, da mesma forma que os significados, são vistos como entidades derivadas.

Por fim, o autor propõe a união de todos esses modelos, considerando-os como complementares, embora tal complementaridade seja de difícil efetivação. Ele ressalta, ainda, que o modelo pragmático visa a preservar o homem, enquanto agente/sujeito responsável, livre e racional, que cria e é responsável por suas intenções.