Memória para Leitura

 


A memória desempenha um papel fundamental para a leitura, em todos os seus níveis. Sem memória, não conseguiríamos identificar as letras, nem os significados, não lembraríamos das frases anteriores, nem do que já sabemos sobre o assunto, ou seja, não sairíamos da primeira frase nunca. A atividade cerebral durante a leitura é tão intensa que ler é considerado um exercício de memória, aliás, o melhor de todos. A importância da memória de trabalho para o bom desempenho da leitura apoia-se principalmente na sua capacidade de processar, filtrar e distribuir as informações. De acordo com Margaret Matlin, pessoas com grande span de memória de trabalho apresentam mais exatidão e rapidez em compreender sentenças complexas e ambíguas, além de serem hábeis nos processos de inferência. Já, pesquisas de Valéria Abusamra apontam outros aspectos da leitura relacionados à memória de trabalho. De acordo com seus resultados, crianças com dificuldades na compreensão de textos apresentam um desempenho significativamente inferior nos testes de memória e de inibição, sugerindo que a relação entre o entendimento da leitura e a memória de trabalho poderia depender de habilidades de inibir informações irrelevantes. Por outro lado, inúmeros fatores podem interferir no processo de consolidação da memória, entre eles os estados de ânimo, as emoções, o nível de alerta, a ansiedade e o estresse.

A memória de longa duração está relacionada ao conhecimento prévio ou conhecimento de mundo, que exerce papel fundamental na formação do modelo situacional, portanto, na compreensão da leitura. Grande parte das dificuldades de leitura acontece pela insuficiência de conhecimentos lexicais ou enciclopédicos. Disso decorre que, muitas vezes, o leitor não consegue estabelecer relações do texto com o contexto e preencher as lacunas textuais nem apreender os conteúdos implícitos, através da produção de inferência.

As atividades de leitura devem ser pensadas a partir de cada texto, pois textos e gêneros distintos prestam-se a desenvolver diferentes habilidades. Além disso, uma forma de suprir a limitação ou a inexistência de conhecimentos relativos ao tema do texto é a proposição de atividades de pré-leitura, que tem o importante papel de estimular a elaboração de hipóteses e promover a busca de coerência por parte do leitor.

Conforme Anderson (2005, p.156), “o sistema de memória se adapta à estrutura estatística do ambiente tornando mais disponíveis as memórias que apresentam maior tendência de serem necessárias”, ou seja, a repetição é fundamental, tanto para adquirir quanto para reforçar a memória.

Na verdade, o que memorizamos não são as palavras que lemos, mas a interpretação dessas palavras, a nossa elaboração do que é lido. O mesmo acontece com qualquer outra informação, pois a memória não é uma fotografia da realidade, ela se compõe de uma série de traços que conectados recuperam a informação associada à imagem do corpo no momento, à emoção.

Estudos têm demonstrado que a emoção é um fator determinante para a memória e para a aprendizagem. Esse autor explica de que modo a emoção está associada aos processos da razão: os sentimentos nos permitem acessar a imagem do estado corporal em determinadas situações e conferem uma qualidade positiva ou negativa ao que é vivido. Tudo o que vivemos é memorizado juntamente com as emoções que sentimos naquele momento, essas emoções podem ser primárias, inatas e, muitas vezes, inconscientes. Podem também ser secundárias, ou aprendidas, constituindo-se basicamente do aprendizado resultante das experiências vividas.

É preciso que os alunos associem a leitura e o conhecimento não só ao contexto da escola (e às avaliações), mas a um contexto mais amplo, em que a leitura possa ser relacionada à busca de conhecimento, a convívio e à troca de experiências.